sexta-feira, 27 de maio de 2011

O voo do urubu

Foi exatamente há 10 anos um dos jogos mais emocionantes que assisti.

Estava lá um flamenguista 'de menor' em meio a alguns vascaínos secadores. O meu time ganhava por 2 x 1, mas ainda não era suficiente para levantar o caneco.

Petelecos, pedala robinho, urubu pra cá, urubu pra lá...e os amigos tiravam sarro a cada minuto. Meu time jogava bem, pressionava, tinha mais posse de bola, mas nada de a bola entrar.  

A vontade era de entrar na TV e fazer alguma coisa para o gol acontecer: amarrar as mãos do goleiro cruzmaltino, dar água com purgante para o time adversário...sei lá.

Foram 88 minutos árduos, de sofrimento, aflição, agonia...mas a esperança prevalecia, afinal o time estava jogando com raça e com vontade de vencer.

Aí, aos 42 minutos e 25 segundos do segundo em jogada rápida de meia de área, o juizão filho de uma boa mãe marcou falta a favor do nosso time. Petkovic pegou a bola e assumiu a responsa. Era provavelmente o último lance do jogo.

O juiz arruma a barreira e Pet fica só perto da pelota.

Nesse momento todo o estádio ficou um segundo em silêncio, depois reinou a confiança que o gol era possível. Tinha-se, então, uma energia no Maracanã e em todo o país.

Aos 43 minutos e 12 segundos a bola cruza a linha do gol de Elton depois de uma cobrança perfeita de Petkovic. Era o gol do título e que ficou marcado na memória dos flamenguistas e na história do futebol brasileiro! O urubu rei voou mais alto novamente aquele dia.

Cada um dos milhões de rubro-negros tem sua história daquele dia. Essa foi a minha.


E essa é a base do trofeu.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A doutrina neoliberal enjaulou a economia política

O texto que reproduzimos abaixo, do economista Mariano Kestelboim, faz uma crítica à matematização observada nas grades curriculares do curso de economia. Uma crítica que deve servir de reflexão, principalmente aos estudantes e profissionais da área.

O curso de economia não deve ser preparador de mão de obra para o mercado em si, e sim formar mentes pensantes preocupadas na solução dos problemas que afligem a população. Vale a pena a leitura!

Por Mariano Kestelboim

Na contramão do processo de recuperação da soberania nacional, iniciado após a grande crise da conversibilidade, a proposta de reforma no currículo de estudos da carreira de Licenciatura em Economia da Universidade Nacional de La Plata representa uma anacrônica tentativa de aprofundar nichos ao anti-desenvolvimentismo. 

Por detrás da enganosa bandeira do liberalismo, se pretende incorporar no programa rigorosa matematização derivada de abstrações que funcionam sob supostas simplificações da realidade. Desse modo, os propulsores da reforma buscam retirar da disciplina boa parte do conteúdo social, político e histórico e os principais instrumentos metodológicos para o desenvolvimento de pesquisas.

A estratégia para encobrir as mudanças consiste em agregar um sistema de disciplinas optativas. De um total de quinze matérias sob essa nova modalidade, os alunos devem escolher dez para cumprir o programa. No entanto, das quinze matérias propostas como não obrigatórias, treze são de conteúdos sociais, ficando apenas quatro dessas sob o regime obrigatório de um total de vinte e duas matérias. Além disso, o plano do novo curso pretende continuar orientando as habilidades dos alunos para o desenvolvimento de projetos de lucro privado de caráter individual, apesar dessa fórmula ter alimentado a decadência da economia nacional.

As políticas economicas neoliberais, caracterizadas pelas regras de mercado como orientadoras do funcionamento da sociedade se impuseram no país a partir do terrorismo de Estado em meados dos anos setenta. A estratégia foi ampla, renomearam a economia política como ciência econômica e passaram a influenciar a imprensa, a cultura e a administração pública. Essas áreas foram complementares para cumprir o objetivo de desintegrar a indústria, romper com a organização operária, despolitizar a sociedade, exacerbar o consumismo promover o individualismo, controlar os recursos nacionais e desprestigiar o papel do Estado.

O surpreendente do poder anti-desenvolvimentista foi tanto o ocultamento das relações de força como também a permanência de sua legitimidade, apesar de sua ineficacia em responder a favor dos interesses nacionais nas crises. O paradigma neoliberal não foi capaz de oferecer explicações consistentes e propostas de mudança que não agravassem a crescente depressão e desigualdade social.

Na última fase da crise sobreveio o Plano Félix que se constituíu no primeiro espaço acadêmico que sem abandonar a lógica capitalista, se tratou de um plano – publicado em dezembro de 2011 – de recuperação da economia, afastando-se da ortodoxia. 

A consolidação do neoliberalismo se conseguiu, principalmente, através do êxtase diante dos centros do poder mundial, de uma academia dominante e vazia de nacionalismo. Ela desacreditou a todos aqueles que a enfrentaram. A sua lógica discriminatória foi se fortalecendo através de prêmios (bolsas, subsídios e estágios) que as universidades das nações mais desenvolvidas deram aos graduados com melhores notas dos países periférico.

As inconsistências do modelo de estudo neoliberal fracassaram também no resto do mundo. A crise internacional atual e os enormes custos sociais são uma clara amostra da incapacidade da teoria neoliberal em prevenir as crises e projetar políticas que as resolvam. De fato, hoje, até no mundo desenvolvido essas questões estão sendo colocadas. Por isso tudo, o plano de estudos proposto revela uma grande desatualização por aqueles que o propõe. 

Lamentavelmente os conteúdos debatidos na universidade platense, agravarão a desumanização do estudo da disciplina. A doutrina neoliberal enjaulou o livre pensamento da política econômica através do estudo criptografado de uma prentesa ciência dura. A academia está em dívida. Não apenas por não ter feito uma autocrítica, mas também porque avança no objetivo de formar economistas que não serão capazes de perceber as relações de poder. 

Se pensarmos bem, veremos que não desenvolverão condições de cumprir o seu principal dever profissional: realizar pesquisas sobre os problemas existentes e planejar políticas que permitam alterar as relações de força para gerar mudanças estruturais de promoção do desenvolvimento. 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Músicas da banda paraense La Pupuña na web

Boas novas aos que curtem a banda paraense La Pupuña: a Rádio Uol está disponibilizando as músicas do álbum All Right Penoso!!!.

Só clicar no link La Pupuña Rádio Uol

Não tem a versão da banda da música Gererê, mas tá valendo.

Eis o Gererê.

Abraços!

domingo, 15 de maio de 2011

Os responsáveis pela crise fazem espuma para desviar o foco do problema real

Delfim Netto


Os bancos centrais dos países desenvolvidos não podem furtar-se da responsabilidade pela tragédia que desempregou 30 milhões de pessoas que ganhavam a vida honestamente em todo o mundo e, ao mesmo tempo, insistir em ensinar como devem se comportar as economias dos países tratados como emergentes.

Foi a cegueira que se apossou desses organismos que permitiu a crise financeira mundial, que ainda parece longe de esgotar seus efeitos. Eles foram incapazes de ver o que os agentes do sistema financeiro estavam fazendo. Sua miopia os levou a acreditar que o mercado financeiro se auto-organizava e que era moralmente inatacável.
Em vez de se autoflagelar pelo fracasso em evitar a queda do crescimento nas economias “submergentes”, dedicam-se agora a vigiar o crescimento mais robusto das economias emergentes, alertando para os riscos da inflação. O Brasil, por exemplo, sabe que é preciso não se exceder nos incentivos para acelerar o crescimento econômico, embora estejamos crescendo pouco. Só mesmo muita má vontade para acreditar, no entanto, que nosso crescimento hoje (de menos de 5% do PIB anual) é exagerado.
É certo que enfrentamos pressões inflacionárias vindas de fora, produzidas, aliás, pela ação desses bancos centrais que agora se dedicam a fazer espuma para retardar a cobrança pelas falhas terríveis que cometeram todos esses anos. Foram eles que mantiveram as taxas de juro exageradamente baixas, permitiram que os fundos hedge fizessem alavancagens gigantescas, que os bancos se valessem das mesmas práticas e especulassem nos mercados de commodities, pressionando os preços nos países emergentes e produzindo a inflação que todos precisam combater.
Ao produzir a espuma, estão novamente desviando a atenção do verdadeiro problema que é a volta da especulação desenfreada no mercado de commodities, que aumenta a volatilidade e estimula o aumento dos preços, especialmente dos alimentos.  Isso nos deixa outra vez à mercê de uma dessas bolhas que periodicamente ameaçam a economia global. E agora vêm nos dizer que devemos reduzir o crescimento para conter a inflação que eles próprios produziram.
Não há justificativa para o Brasil passar a ser alvo preferencial das recomendações ou críticas de organismos internacionais como o FMI e o Banco Central Europeu, pois estamos na outra ponta do processo especulativo que afeta os preços de alimentos. Somos o país emergente que mais contribuiu na década para o aumento da oferta da produção básica de alimentos nos mercados mundiais, o que, obviamente, é uma ajuda importante para a estabilidade dos preços.
Felizmente, essas recomendações externas têm sido ignoradas, e de outra parte não prevaleceram os ataques internos à condução da política de controle da inflação que o governo vem praticando. Desfez-se a intriga que o Banco Central brasileiro tinha jogado a toalha, esquecido de elevar a taxa de juro desejada pelos falcões do mercado financeiro, para partir para o controle da inflação usando apenas medidas macroprudenciais.
Tratava-se, também, de mais espuma, pois o Banco Central nunca se propôs deixar de utilizar os juros como instrumento de combate, mas sim usar medidas macroprudenciais em condições específicas (como foi feito no caso dos prazos de financiamento de automóveis). A autoridade monetária sempre disse que continuaria a aumentar a Selic de forma cuidadosa para obter os resultados desejados num prazo um pouco mais longo do que era comum: em lugar de limitar a 12 meses o prazo para alcançar a meta inflacionária, o Banco Central está usando praticamente 24 meses.
É justo reconhecer ainda que há um sério esforço de parte do governo na execução da política fiscal, reduzindo o ritmo do crescimento das despesas de custeio e de transferências. Com isso reduz o custo do ajuste para o Tesouro e minimiza a queda de produto necessária para atingir a meta inflacionária.
Essa política é correta, diante do choque externo e das incertezas sobre a demanda interna. O objetivo é chegar ao fim de 2012 com a inflação de volta à sua meta. Não significa que se abandonou a política de combate à inflação, que tem o suporte completo da presidenta Dilma. É uma política mais cuidadosa para atingir aquele objetivo sem reduzir o crescimento da economia de maneira extravagante. E é necessária e adequada porque tem um custo social menor do que se tem com o uso puro e simples da taxa de juros.

Fonte: Carta Capital

segunda-feira, 9 de maio de 2011

'Modelos de mercados perfeitos criaram falsa segurança e contribuíram para crise global'

Do Estadão

No início de abril, o economista Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard, participou de um encontro com o nome instigante de "Crise e Renovação: Economia Política Internacional na Encruzilhada", organizada pelo Instituto para o Novo Pensamento Econômico (Inet, na sigla em inglês), patrocinado pelo bilionário e megainvestidor George Soros. O seminário, que visava discutir as transformações no pensamento econômico depois da crise global, foi realizado no mesmo hotel em que aconteceu o histórico encontro de Bretton Woods de 1944, no qual foi desenhada a arquitetura financeira internacional do pós-Guerra.

Ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), e um dos economistas mais prestigiados da atualidade, Rogoff é o autor, junto com Carmen Reinhart, do livro Oito Séculos de Delírios Financeiros: Desta Vez é Diferente, que faz um levantamento de 800 anos de crises econômicas e financeiras, e é considerado um marco na literatura econômica pós-crise global.

Apesar de ser um economista que frequentemente se posiciona a favor da ortodoxia, Rogoff critica com firmeza os modelos econômicos que pintam um mundo de mercados perfeitos, e nos quais não existem as imperfeições do sistema financeiros, que criam bolhas como a que causou a recente crise global. Ele acha, inclusive, que esse tipo de pesquisa acadêmica contribuiu para que as autoridades econômicas fechassem os olhos para a imensa bolha financeira e imobiliária que se irradiou pelo mundo rico, a partir dos estados Unidos.

Rogoff defende um novo papel para os BCs, em que a vigilância sobre as bolhas se some à atividade tradicional de controlar a inflação. Mas ele avisa que não vai ser nada fácil, já que a tendência histórica, detectada em Desta Vez é Diferente, é de que as autoridades relaxem ainda mais as regras em tempos de euforia. A seguir, a entrevista:

A crise econômica global e a Grande Recessão derrubaram pontos importantes da macroeconomia?
Sim. A crise minou uma ferramenta importante e central: os modelos macroeconômicos que tanto economistas como gestores de bancos centrais utilizam. Esses modelos pressupõem um grau muito alto de desenvolvimento financeiro, tangenciando a perfeição. Eles pressupõem que os mercados financeiros funcionam de forma muito eficiente e perfeita, num sentido muito profundo. E tipicamente se pressupõe que todas as fricções, todas as imperfeições, estão no mercado de bens e de trabalho.

Houve uma idealização do funcionamento dos mercados?
Sim. No extremo, por exemplo, (Finn Erling) Kydland e (Edward) Prescott ganharam o prêmio Nobel (de 2004) pela sua teoria do ciclo de negócios (ciclo econômico) real, que essencialmente pressupõe que tudo é perfeito na economia, que nós vivemos num mundo de absoluta eficiência. Um mundo no qual não existe nenhum monopólio, nenhuma imperfeição financeira, não há nem mesmo imperfeições no mercado de trabalho. É muito bonito, mas é profundamente oco em termos empíricos.

E por que os modelos macroeconômicos em geral partem de pressuposições irrealistas?
O problema é que, quando você quer olhar para modelos mais complexos, tudo rapidamente se torna muito mais complicado. O que nós realmente entendemos em Economia, num nível profundo, e o que dá base a todos os nossos modelos, é que a demanda é igual à oferta. E, se não for, o preço se move até que a demanda fique igual à oferta. Bem, a crise financeira, o desemprego, e diversas outras coisas acontecem porque os preços não se movem para fazer com que a demanda se iguale à oferta. Quando os salários são muito altos, as pessoas ficam desempregadas. E, dessa forma, o preço não cai imediatamente para tornar a demanda igual à oferta. E, assim que a demanda não se iguala à oferta, nós economistas ficamos impressionantemente sem ferramentas, e não sobra muito nos modelos matemáticos.

A confiança nesses modelos foi uma das causas da crise global?
Acho que sim, porque eles deram uma sensação falsa de segurança. O Alan Greenspan (ex-presidente do Federal Reserve, Fed, banco central americano) saiu por aí dizendo para todo mundo para não se preocupar com todos aqueles derivativos (operações financeiras) complexos porque, na verdade, eles estavam tornando os mercados financeiros mais eficientes. Eles estavam aproximando o mundo real e os mercados financeiros do mundo idealizado de Robert Lucas (prêmio Nobel de 1995) de Kydland, de Prescott, de (Kenneth) Arrow (prêmio Nobel de 1972) e (Gérard) Debreu (prêmio Nobel de 1983)e de todos os seus maravilhosos modelos canônicos.

Como isso aconteceria?
Ele disse que (os derivativos) estavam apenas movendo os mercados financeiros na direção certa, estavam ajudando a pulverizar o risco, a tornar o mundo mais seguro, menos volátil e menos arriscado. Greenspan estava pensando em termos dos modelos acadêmicos convencionais, e não em termos de modelos nos quais existe má informação, e nos quais as pessoas trapaceiam, não pagam o que devem. A história mostra que esse tipo de coisa acontece sempre. Aliás, antes da crise, havia toda uma indústria de análises sobre a Grande Moderação, e por que ela estava acontecendo.

O sr. poderia explicar melhor o conceito de Grande Moderação?
A Grande Moderação era a ideia de que, graças a melhores mercados financeiros, à melhor política monetária e à globalização, o mundo tinha se tornado um lugar menos volátil, no qual as crises eram menores. Assim, o consumo, a produção e todas as variáveis macroeconômicas, e particularmente o desemprego, também eram menos voláteis. Esse mundo mais seguro, por outro lado, poderia crescer mais rápido, devido ao fato de que havia essa maior segurança. Mas a Grande Moderação foi uma total ilusão.

Os economistas tiraram as lições certas da crise?
É cedo demais para dizer. A maior parte dos macroeconomistas mais velhos continuou a fazer exatamente o mesmo trabalho que fazia antes, sem nenhum sentido de autoconsciência. Porém, se você olhar os pesquisadores mais jovens, entre vinte e tantos e trinta e poucos anos, eles estão dispensando totalmente os velhos modelos e buscando algo novo.

E o que há de novo?
Entre os jovens pesquisadores, está todo mundo tentando introduzir (nos modelos macroeconômicos) fricções e imperfeições do mercado financeiro, de uma maneira construtiva. Mas não significa que alguém já tenha de fato chegado lá.

E a economia comportamental, que busca incluir as características da psique humana?
A economia comportamental é excitante, mas neste momento é uma disciplina com 40 modelos diferentes para 40 diferentes fenômenos. A corrente principal da Economia, como eu disse, tem a oferta igual à demanda como uma estrutura unificadora. E a economia comportamental não tem algo assim. Ela ainda tem muito poucos sucessos reais em termos de achar um arcabouço econômico que possa substituir o atual.

A crise levou a uma revisão do papel dos bancos centrais?
Agora há a ideia de que o banco central seja contracíclico. Então, por exemplo, se a economia está crescendo velozmente, ele pode querer apertar a regulação, de forma que não se tenha tanto aumento de crédito e se evitem bolhas. É a regulação macroprudencial. Faz muito sentido, mas é difícil de fazer. No Desta Vez é Diferente, Carmen e eu mostramos que, historicamente, a coisa vai na direção contrária. Quando há um boom, a regulação é relaxada - é um comportamento humano muito comum.

E quanto à regulação financeira em geral? O que mudou com a crise?
Certamente precisamos de mais independência para os legisladores, de partilhar mais informação, de mais regulação internacional. Mas o que se vê é que a Lei Dodd-Frank (de 2010, que visa reformular o sistema financeiro americano) é um esforço para manter exatamente o mesmo sistema que os Estados Unidos tinham antes da crise, com pequenas modificações para torná-lo um pouco melhor. Mas não está claro que isso seja suficiente.

O que está faltando?
Eu acho - e muitos acadêmicos argumentam na mesma direção - que os bancos deveriam ser obrigados a se financiar muito mais com capitalização (emissão de ações), e menos com captação por meio de bônus. A maioria dos acadêmicos diria que o novo acordo de Basileia (que estabelece parâmetros globais para regulação de bancos) pede um aumento de capitalização que não chega nem perto do que seria suficiente. Mas os reguladores são muito cautelosos quanto a mudar qualquer coisa. Eles foram convencidos pelo setor financeiro de que todo o crédito ia entrar em colapso, caso os bancos tivessem que levantar dinheiro com mais emissões de ações em vez de dívida. É um equívoco total.

O Brasil está num momento complexo de sua política econômica, com medidas macroprudenciais para ajudar no combate à inflação, controles de capital, intervenções no câmbio. Qual a sua visão?
Bem, não tenho muito conhecimento de causa, mas a minha sensação, falando com amigos no Brasil e lendo sobre o País, é que permanecem problemas importantes, como o governo ser grande demais e entraves no mercado de trabalho e em outros mercados, que impedem a economia de operar tão eficientemente quanto deveria. A grande pergunta é se o novo governo vai se mover na direção certa. O primeiro Lula fez isso, o segundo Lula, não. Quanto aos pontos que você ser referiu, minha impressão é que (o governo) está se debatendo um pouco, que muitas daquelas medidas não são efetivas mas. Por outro lado, é correto o instinto da equipe econômica de que, por causa de todos os fluxos de capital e do boom de crédito, eles deveriam se preocupar com a possibilidade de uma crise financeira em alguns anos. Eles estão certos de ser cautelosos, e o instinto de usar políticas macroprudenciais é muito bom.