quarta-feira, 12 de junho de 2013

Coração, um trabalhador injustiçado

O coração de um adulto bate com frequência de 60 a 100 bpm (batimentos por minuto). Fiquemos, então, com média 80. Significa que em um ano, o músculo pulsa algo em torno de 42 milhões de vezes. O coração de uma pessoa de 50 anos já bateu aproximadamente 2,1 bilhões de vezes. Loucura, né?

É possível viver sem perna, braço, sem um dos rins, até sem alguns neurônios (inclusive, acredito sinceramente que há pessoas que desconhecem que os têm), mas sem o coração funcionando já era.

Pois bem, este músculo empreiteiro, que não tem folgas, férias e nem 13°, dá um duro danado para que nos mantenhamos vivos e ainda é culpado injustamente por desventuras amorosas. Quanta maldade!

Já o cérebro humano é composto por cerca de 86 bilhões de neurônios. A troca de ideias entre eles (sinapse nervosa) é que direciona comandos para todo o corpo. Todos os sentimentos são de responsabilidade desses bichinhos cinzentos. Assim, são alguns desses sujeitos que causam as desventuras nas cabecinhas dos senhores e das senhoras (inclusive no deste que vos escreve, claro!).

Portanto, na data de hoje, deixemos de culpar injustamente o trabalhador que pulsa aproximadamente 115 mil vezes por dia para manter-nos vivos: o coração.
 


Feliz dia dos namorados procês!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Bodas de Zinco

Minha amada fx-82MS,
Em 2014 celebraremos nossos 10 anos de casamento. Será a nossa Bodas de Zinco.
Peço desculpas pela pouca dedicação nos últimos anos, mas prometo melhorar.
Agradeço também por permitir minhas puladas de muro com a HP—12C, Excel, SPSS etc. Isso só reforça minha admiração por você.
Não consigo viver sem o seu cientificismo. I love you!

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mudança de perspectiva?

1. O governo tem entre suas principais mentes pensantes a ideia de que a indústria é o principal motor para a economia prosperar de maneira saudável. Certamente o crescimento da produção industrial de 1,8% em abril (comparando-se com o mês de mar/13) resultou em lampejos de esperança de melhoramento da atividade industrial para o ano. Embora o acumulado nos últimos 12 meses esteja negativo (-1,1%), em 2013 o percentual está em 1,6%, segundo dados do IBGE.
2. O PIB do primeiro trimestral deste ano (0,6%) ficou aquém do esperado, o que fez a Fazenda repensar para baixo sobre o crescimento estimado para 2013. O resultado só não foi pior porque a agropecuária avançou 9,7%, em detrimento a retração de 0,3% da indústria.
3. No dia 4 último o governo federal lançou o Plano Safra, disponibilizando R$ 136 bilhões para o financiamento da safra 2013/14, o que representa aumento de cerca de 18% em relação ao plano anterior.
Embora se possa dizer que na caixinha de simpatias teóricas a indústria seja vista como a vedete da prosperidade econômica, fica evidente um maior redirecionamento de olhares para a agropecuária. A contribuição desta para segurar o PIB ultimamente tem feito o setor ganhar mais atenção governamental (embora, repito, não seja a vedete da caixinha de simpatias), aumentando também sua participação na composição do PIB. Merece ainda destacar a crescente participação do setor na balança comercial brasileira (ampliando consideravelmente a participação de produtos primários na pauta exportadora).
Diante disso, fica a dúvida, ao menos para este: as práticas do governo mostram que o velho debate indústria x agropecuária está sendo trocado pela ciência de que na atual conjuntura (interna e externa) os dois setores podem caminhar juntos?

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O bem precioso

Fausto tinha lá seus gostos e manias. Era um grande colecionador de moedas. Tinha moedas de quase todos os países do mundo. Uma vez, voltando de um tour pela África, teve que pagar excesso de bagagem por conta das moedinhas. Outro gosto de Fausto era por relógios. Em sua coleção de Rolex, por exemplo, era possível encontrar raridades da marca.

Fausto também tinha uma mania: observava tudo. Conversas, pessoas, objetos, lugares etc. Ele certamente seria um bom detetive, mas optou por cursar medicina, já que cresceu ouvindo as histórias de dois renomados cardiologistas: seu pai e seu avô.

Pois bem, Fausto costumava observar em tudo. Se entrava num restaurante conseguia numa discreta passada de olhos mapear as pessoas, as roupas de cada uma e até as bebidas em cada mesa. Uma vez almoçando em um restaurante com frente para a rua, ele percebeu que ali funcionava um esquema de venda de drogas. Como era um lugar frequentado por gente mais granfina, a presença de policiais era constante, mas a turma da droga elaborou um esquema de permuta de vendedores que passava desapercebido pela polícia. Duas refeições no mesmo local foram suficientes para Fausto perceber a lógica da coisa. Bem, ele resolveu ficar calado. Qualquer coisa relacionada ao crime o amedrontava.

Diferente do pai e do avô, ele resolveu seguir o campo da psicanálise. O fato de ser um ótimo observador lhe dava grande vantagem em seu trabalho. Nenhum detalhe em seus clientes passava em branco. Uma vez recebeu uma pomposa proposta do governo para interrogar alguns criminosos, mas o medo em lidar com esse tipo de gente impediu que ele aceitasse. E o que ganhava em seu consultório já era suficiente para bancar os seus vícios.

Mas nem só de louros essa mania de observador era marcada. Uma vez foi a uma festinha na casa de um amigo. Ele não conhecia bem o grupo de amigos do anfitrião, mas aceitou o convite. Lá havia gente de todos os tipos: um senhor usando uma cinta que o deixava parecido com o Jô Soares; uma mulher que usava uma calça tão apertada que a impedia de andar direito (anda como uma múmia, pensava Fausto); uma outra que usava uma daquelas calcinhas só de fios (ficou com calafrio só de pensar o sufoco que deve ser usar aquele negócio).

Nessas olhadelas ele também viu a Emanuela. Seu instinto viril escolheu aquela criatura para observar em detalhes. Fausto continuava a conversar em um grupinho de pessoas, mas a sua habilidade permitia que com total discrição seu “objeto” fosse estudado. 

Em poucos minutos eis a montagem da divina dama aos olhos de Fausto: 
vestido preto, meio palmo acima do joelho; bota de couro cano longo, talvez nº 37; pulseira dourada de quatro voltas no braço direito; relógio dourado no braço esquerdo; cabelos um pouco abaixo do ombro, levemente ondulados nas pontas; cordão dourado com um pingente; brincos pequenos e luminosos; a distância da bota até o vestido em algo entorno de 25,3 cm; um sorriso angelical...

Ao final da festa, já com menos convidados, Fausto conseguiu aproximação com a bela Emanuela e até anotou seu número de telefone. Alguns dias mais tarde os dois começaram a se falar e depois do primeiro encontro era só diversão entre os dois. Um clima de reciprocidade parecia envolver o desejo deles.

Como Fausto costumava ir para o seu consultório logo no primeiro horário, com o tempo Emanuela costumava ficar dormindo até um pouco mais tarde no apartamento dele. Embora observar fosse o seu forte, com Emanuela parecia que Fausto deixava automaticamente de exercitar seu dom. Com o tempo foi começando a revelar sobre suas manias e gostos, mas pouco perguntava sobre ela. 

Um dia, ao chegar em casa, Fausto sentiu falta de alguns pequenos objetos na sala. De pronto, correu para o quarto onde estavam as suas coleções de relógios e moedas. Nada havia mais de relógios e de algumas moedas das mais raras. Sobre a cama havia um bilhete: 

“Obrigado pelos dias que passamos juntos. Agradeço pelo carinho, pelas conversas engraçadas (nunca vou esquecer do jeito que você me contou aquela história de seu paciente que pensava ser o Sarney...hehe) e toda a sua dedicação. Foram os melhores meses da minha vida. Queria mesmo continuar com você, mas meu instinto falou mais alto. Perdão. Beijos da sempre sua, Manu”.

Ao ver-se naquela situação, Fausto ficou indignado consigo mesmo. Como que um psiquiatra como ele deixara se enganar daquela forma? Como que sua porcaria de habilidade observadora havia ficado cega quanto à Manu? Como ele, sempre tão reservado, havia compartilhado com ela sobre seus mais interiores e particulares sentimentos? Como? Como?

Tempos depois Fausto já havia conseguido montar outra coleção de relógios e até conseguiu algumas moedas raras. Claro que a coleção não era a mesma, mas tudo bem. Porém, Fausto sentia que algo ainda estava faltando. Passou dias revirando o apartamento e nada de resposta.

Um dia, depois de reler o bilhete deixado por Manu, ele descobriu: ela havia lhe roubado o coração. Desde então ele não tira da cabeça aquela imagem da Emanuela quando da primeira vez que a viu naquela festa, com vestido preto e um sorriso angelical.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A adorável Matilde

E lá estava o Zé Carlos, ou Zeca, como era mais conhecido, voltando do trabalho de garçom depois de um dia bem movimentado no Restaurante Casa Blanca. Como de costume, passava na padaria do Messias perto de casa para comprar seu jantar - pão, queijo e refrigerante.

Zeca percebeu que a mulher que estava no caixa da padaria não era a Tereza, uma senhora que estava no cargo desde os tempos em que ele mudou para o bairro há uns 6 anos.

 “Boa tarde, onde está a dona Tereza?”, perguntou para a nova atendente.
- Ela precisou sair do emprego para cuidar da filha, que está grávida.
- Ela é uma boa pessoa. E o seu nome é...?
- Matilde.
- Obrigado, Matilde! Sou o Zé Carlos.
Zeca pegou seu pacote e foi para casa. 

Nos dias seguintes a cena da padaria se repetia quase que diariamente.

Zeca, solteiro, aparentava ter uns 35 anos e morava numa casa humilde no final da rua da padaria do Messias. Com o tempo, começou a observar a Matilde e, entre uma conversa rápida e outra com o dono da padaria, descobriu que ela também era solteira e tinha seus 28 anos.

Matilde não era um exemplo de beleza dos que se via nas novelas, mas tinha lá seus atributos. Seus olhos castanhos claros e cabelos lisos caiam bem com sua pele morena e bochechas avolumadas. Depois de um romance que terminou por conta de traição, Matilde jurou para si que faria de tudo para manter o próximo relacionamento, por isso teria que ser uma escolha bem pensada. Mas por hora, pensava, é dedicar ao novo trabalho.

Zeca, na sua ida rotineira à padaria, começou a buscar uma aproximação de Matilde. Ela, sempre educada, apresentava um leve sorriso para cada cliente que passava em seu caixa, mas não demonstrava abertura aos mais engraçadinhos que a cortejavam com elogios mais atrevidos. Com o Zé, a Matilde arriscava fazer alguns comentários sobre o pãozinho que ele levava: “hoje o pão está quentinho, hein!”, e ele retribuía com um sorriso e uma ou duas palavras.

Para Matilde, o Zeca era um homem respeitador, educado e honesto, que trabalhava pesado no restaurante para levar a vida. Já o Zeca, via na Matilde uma pessoa que parecia ser sincera e batalhadora. Embora Zeca por vezes dissesse para si mesmo que “ela tem uma carinha de bobinha”, ele começou a encantar-se por Matilde. Ela idem.

Entre um pãozinho e outro, Matilde aceitou o convite de Zeca para um jantar depois do expediente (sim, o jantar tradicional dele; a Matilde levou o pão). Com o tempo os dois se apaixonaram e Matilde sentiu que o Zeca seria um bom homem para ela. Seis meses depois de o tal jantar, os dois foram morar juntos, que para eles significava um casamento.

Dois anos depois do “ajuntamento”, a rotina não havia mudado. Matilde estava feliz e apaixonada. Conseguiram dar uma melhorada na casa, compraram móveis novos e até pouparam grana para um carrinho usado. Já Zé Carlos começava a deixa seu instinto de quarentão aflorar. Como ele usava o carro para ir ao trabalho, achava-se mais confiante para uma pulada de cerca. Poderia sair mais cedo do trabalho e marcar um esqueminha. A Matilde nem iria perceber. Zeca, então, começou a sair com Fernanda. Ela, de 25 anos, trabalhava na filial do restaurante. Os dois se conheceram numa daquelas reuniões para “balanço” do restaurante. Ela não tinha muita coisa na cabeça, era atrevida e provocante. Sabia que seu belo par de cochas deixava muito homem de cueca inflada, mesmo assim nunca arranjou um bom partido (leia-se, um homem rico), como ela desejava.

Matilde começou a perceber certo distanciamento do Zeca. Os carinhos não eram mais os mesmo, as reuniões depois do expediente aumentavam, mas ela deixou o Zeca na dele. “Não é nada não, amor, apenas estou cansado do dia de trabalho. Está puxado lá no restaurante. Boa noite!”

Fernanda gostava do Zeca, e, sabendo que ele era casado, disse que só iria dar continuidade ao caso quando ele saísse de casa. Não deu outra. Dois meses depois os dois foram morar num quarto alugado.

Matilde, coitada, ficou arrasada. O Zeca pediu-lhe desculpas e até afirmou que tinha o maior apreço por ela, mas o que sentia pela Fernanda era, era...não sabia explicar. Enfim, “acabou!”, disse ele ao sair de casa, deixando a pobre Matilde aos pratos.

Seis meses depois lá estavam Zeca e Fernanda ainda juntos, de bem com a vida. Ela aparentemente aprendendo algumas coisas com o quarentão, e ele orgulhoso de ter uma mulher jovem e bonita em casa.

Mas vejam como é a tentação. Uma morena, jovem, super atraente começou a frequentar o restaurante onde Zeca trabalhava. Ele, sempre solícito, atendia com toda educação e presteza a nova cliente. Débora era o nome dela. Ela parecia saber dos gostos do Zeca e sempre tecia comentários lisonjeiros para ele. Com o tempo, Zeca passou a ficar encantado com Débora, mas sabia que tinha em casa uma bela companheira e não queria uma nova situação, como aquela com a Matilde. Bem, as investidas de Débora, nunca vulgar, deixou o Zeca sem escolha. Trocou a Fernanda pela Débora. Seu ego foi às alturas: “depois dos 40 estou pegando todas!”.

A Fernanda, que já tinha se apegado ao Zeca, sofre um tanto. “Paciência”, pensou o Zeca.

Dois meses depois o Zeca chega em casa (alugou um pequeno apto.) e flagra Débora na cama com outro cara. Sentiu uma dor profunda ao ver aquilo, mas nada fez. Débora saiu de casa e lá ficou Zé Carlos. Destroçado. Derretendo-se em pratos.

Dias depois tentou contato com a Fernanda, mas esta não queria mais nada com ele.

Segue-se a vida. Zé Carlos, agora gerente do restaurante, está aparentemente recuperado do trauma do último relacionamento, porém não abre brechas para uma nova aventura. Por conta do novo cargo, passa a ter mais contatos com pessoas e, vez em quando, recebe elogios mais aguçados (e até cantadas) de clientes mais assanhadas, mas não se deixa levar.

Pois bem, mas o Zeca não é de ferro. Sentia-se com a saúde em dias e o seu apetite não havia acabado. 

Uma representante de uma empresa de vinho passa a ter contato com o gerente Zé Carlos para falar de seus produtos e discutir a possibilidade de ser fornecedora do restaurante. O nome dela é Cecília. 

Embora não tenha seguido os estudos (parou no segundo ano do segundo grau), Zeca costumava ler um pouco de literatura na juventude. Ele tinha um fetiche especial pelo nome Cecília, pois fantasiava em sua mente a linda Cecília do José de Alencar (do livro O Guarani), sendo Zeca o Peri do romance.

Cecília, na tentativa de vender o produto com o qual trabalhava, começou a ter contato mais frequente com o gerente. Sempre educada, com um palavreado requintado e mostrando propriedade sobre o que estava falando, Cecília foi ganhando a atenção de Zé Carlos. Ao marcarem uma conversa pessoalmente, ele ficou encantado com a beleza daquela mulher de trinta e poucos anos. Embora não tão jovem como a que descrevia José de Alencar, a Cecília representante de vinho tinha igualmente olhos azuis e cabelos compridos louros. Isso fez o gerente fantasiar mais ainda, estendendo as conversas com a linda mulher por um bom tempo, negociando preço, quantidade, os tipos de vinhos etc.

Ela, embora muito discretamente, abria brechas para as investidas, também discretas, do Zeca. Dois meses de conversa e ainda sem definição se o restaurante iria negociar com a representante, estavam os dois envolvidos num romance carnal bastante intenso. Zeca sentia-se jovem, mostrava vitalidade e seu ego, como da outra vez, não cabia mais em suas calças. Embora ainda com resquícios de trauma do relacionamento anterior, e ciente que não conhecia muito bem a história da Cecília, Zeca estava feliz.

Seu mundo, porém, foi abaixo quando entrou num shopping perto do restaurante. Zé Carlos frequentava a agência bancária de lá religiosamente no primeiro dia útil de cada mês, pois tratava das finanças do restaurante com o gerente do banco. Ao chegar perto da entrada da agência, deparou-se com a sua Cecília sentada em um banquinho aos beijos com um antigo amigo do Zeca. Paralisado, atônito, destroçado, humilhado...assim ficou o Zé Carlos com a cena.

Um filme passou pela cabeça do Zeca depois disso. “Burro, você não aprende?”, gritava ele consigo mesmo a toda hora. “Duas traições! O que eu fiz para merecer isso, meu Deus?", perguntava.

Zeca ficou um tempo sem ir trabalhar. Quando viu que estava no buraco, já sem vontade de viver, aceitou a orientação relutante de um amigo e foi procurar ajuda no psicólogo. Depois de muitas conversas, a cabeça do Zeca foi organizando as ideias, resignando-se com os acontecimentos. Voltou ao trabalho, embora não mais na função de gerente (com o tempo que ficou fora, o restaurante contratou outro funcionário; ao retornar, o Zeca ficou como maitrê), e foi tentar recomeçar a vida.

Depois de muito refletir sobre os acontecimentos em sua vida nos últimos anos, lembrou-se de Matilde. Sim, a mulher de olhos castanhos claros e cabelos lisos, que trabalhava na padaria. “Por que eu deixei a Matilde? Ela era feliz ao meu lado, e eu ao lado dela. Por que diabos eu fiz aquilo?”. Duas semanas depois Zeca foi procurar Matilde e lá estava ela. A padaria cresceu e virou um supermercado e Matilde era a gerente. Ela continuava morando na casa de antes. Embora o tempo tenha passado, Matilde continuava com a sua beleza que encantava Zeca.

Muitos pedidos de desculpas, muitas promessas, muitas lágrimas por parte do Zeca depois, Matilde aceitou Zé Carlos de volta. Ele agora era outro homem. Dizem até que a música Não sou mais disso foi inspirada no Zeca (Eu não sei se ela fez feitiço/ Macumba ou coisa assim/ Eu só sei que eu tô bem com ela/ A vida é melhor prá mim...).

Depois de todos esses acontecimentos, os dois viveram os restos de seus dias bem.

Matilde, porém, nunca relevou ao Zeca que as aparições de Débora e Cecília na vida dele não foram por acaso. Foi coisa da Matilde.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Serra e sua irresignação...

Sem intenções de explicitar a capacidade de ler mentes (a modéstia não me permite!), estava indagando ao meu eu interior sobre o que pode estar passando na cabeça do José Serra com essa história de Aécio Neves e até do Eduardo Campos para 2014. Eis algumas suposições.

“Pow, depois de tantas eleições e gestões na mais forte unidade da federação do país é isso que ganho?”

“Depois de ter participado ativamente da Constituinte de 88 e desde então está fazendo barulho no cenário político nacional é isso que recebo, o papel de bandeirinha de escanteio?”

“Tá, o Lula com a história de reformar o quadro petista emplacou o Haddad na capital e angariou votação expressiva para o Pochmann em Campinas, mas o amigo Fernando Henrique pensa que a receita vai funcionar igualmente para o PSBD?”

“Aécio, seu lindo, não menosprezo sua recente vida política, mas vamos confessar que o vovô Tancredo foi uma porta e tanto, hein!? E por quê? Por que eu na minha maior sobriedade estou sendo trocado por um cara que amigos e nem tantos chamam de playboyzinho? O cara faz muito barulho, mas vamos colocar no papel as experiências dele contra as minhas, já que é essa uma bandeira do Fernando Henrique”

“Meu santo companheiro das madrugadas, e o que falar do Eduardo Campos? O que ele tem no Lattes para querer o cargo que tanto almejo? Pow, tenho escritos sobre a América Latina desde que o cara dançava frevo em Recife na infância! Ok, ok, ele tem lindos olhos verdes, mas não dizem que é dos carecas que elas mais gostam? Ainda mais: o rapaz não sabe se fica na frente governista ou na oposição. Pode ser um nome para maaaaaaaaais adiante, mas agora? Por favor, né!”

“Bem, embora eu tenha um eleitorado ainda fiel (duvidam? Entrem no site do TSE e vejam a quantidade de votos!), ainda não consegui comover ninguém com todas as inquietações citadas acima (e outras tantas que tenho em minhas profundezas). Os brasileiros não vão confiar o país ao playboyzinho Aécio. E mais uma vez pergunto: quem é o Eduardo Campos? Perguntem aos brasileiros (e não ao pessoal da elite midiática) que vão saber do que estou falando. Depois não vão dizer que não avisei... Selinhos draconianos do seu Zé!”

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Voltarão os investimentos?

Por Antonio Delfim Netto, no Valor de 04.12.12

Segundo os cálculos do IBGE, o crescimento do PIB no terceiro trimestre de 2012 sobre o segundo trimestre foi da ordem de 0,6%, depois da correção sazonal. Anualizado, anda às voltas de 2,4%. O desencanto geral refere-se menos à taxa que vem caindo desde o primeiro semestre de 2011, quando se mede através do crescimento acumulado nos últimos quatro trimestres (como se vê abaixo), e mais à surpresa do número.
Para relativizar o resultado, é preciso considerar que as altas taxas de crescimento iniciais ainda refletem a comparação com as vigentes ao longo de 2008-2010 depois da grave crise iniciada com a falência do Lehman Brothers, e que nos levou a uma taxa de crescimento negativa no terceiro trimestre de 2009.


A brutal flutuação da nossa taxa de crescimento (6,4% no primeiro trimestre de 2008, -1,4% no terceiro de 2009 e 7,6% no terceiro de 2010) esconde o fato de que nunca crescemos consistentemente mais do que 4% ao ano no período de 2003 a 2012, ou mais do que 3% entre 1995 e 2002. O administrador deve aprender que não deve brigar com os números. Por mais desagradáveis que sejam, eles são o passado. Estão dados. O que não está dado é o futuro! Esse depende da capacidade do governo de cooptar o setor produtivo privado para aumentar os investimentos.
O resultado revelou o conhecimento precário da realidade tanto das autoridades como dos famosos "analistas financeiros", que se supõem portadores de um "conhecimento científico". Todos agem de acordo com o velho axioma: o erro coletivo é inofensivo para reputação do agente!
Todos (inclusive quem escreve esta coluna) estávamos convencidos de que o crescimento entre o terceiro e o segundo trimestres seria parecido com 1%, e acreditávamos que dispúnhamos de "indicadores antecedentes" de boa qualidade. Agora só resta uma saída para salvar a cara perdida: é que o IBGE tenha errado feio, o que, honestamente, é pouco provável.
Mas ainda há esperança. Mesmo decepcionantes, os números revelam que a situação está melhorando. Enquanto no terceiro e quarto trimestres de 2011, e no primeiro de 2012, a taxa de crescimento com relação aos anteriores, corrigida pela variação estacional, ficou estável em 0,1% (o que sugere um crescimento anualizado de 0,4%), no segundo trimestre deste ano com relação ao primeiro, o crescimento foi de 0,2%, sugerindo um crescimento anual da ordem de 0,8%, e o do terceiro trimestre de 0,6%, o que leva à estimativa para um crescimento anualizado de 2,4%.
Se os efeitos de todos os estímulos já dados forem capazes de acordar o "espírito animal" dos empresários, talvez possamos ter um crescimento de 0,8% no quarto trimestre sobre o terceiro, o que nos levaria a deixar para trás o difícil 2012, rodando a uma taxa anualizada de 3,6%!
O fato realmente trágico das contas nacionais de julho-setembro de 2012 é que elas revelam o quinto trimestre consecutivo de redução do nível de investimentos. O problema é que nem a bem-sucedida política de queda da taxa de juros real, nem o controle do movimento de capitais, que levou a uma recuperação da taxa de câmbio, nem os incentivos fiscais, alguns da maior importância no longo prazo, como é o caso da desoneração da folha de salários, nem o excepcional esforço através do BNDES, nem os estímulos à inclusão social, que asseguram um aumento da demanda, foram capazes de mobilizar os investidores privados.
Estímulos não foram capazes de mobilizar investidores privados
A verdade é que a resposta ao ativismo do governo, em geral na direção correta, foi, infelizmente, acompanhada de ruídos de comunicação por parte dos agentes públicos que interagem com o setor privado no campo fundamental da infraestrutura.
Frequentemente eles manifestam alguma prepotência e muita idiossincrasia, o que tem comprometido a relação de confiança que deve prevalecer entre o setor público e o privado. Obviamente, o primeiro pode e deve fixar as regras do jogo com lógica aceitável numa economia de mercado, mas o segundo tem todo o direito de exigir que sejam de máxima clareza, transparentes e respeitadas.
A falsa ideia que se generalizou no setor financeiro e no setor real da economia - que a política do governo objetiva ampliar a sua ação, fixar preços, regular e controlar atividade privada, ampliar a "estatização de setores estratégicos" - é consequência da relação vista como hostil pelos que têm contato necessário e direto com os agentes públicos que detém o poder, o que, aparentemente, têm produzido mais calor do que luz.
Quem conhece a inteligência da presidente, sua disposição de estudar cuidadosamente cada problema e seu pragmatismo, tem muita dificuldade de entender como se chegou a tal distância de confiança entre o governo e o setor privado de infraestrutura. Uma coisa é certa. Enquanto ela não for anulada, é pouco provável que o "espírito animal" volte a comandar os empresários e se ampliem os investimentos.