terça-feira, 18 de setembro de 2012

Brincadeira (do Verissimo)

Começou como uma brincadeira. Telefonou para um conhecido e disse:

- Eu sei de tudo.

Depois de um silêncio, o outro disse:

- Como é que você soube?

 - Não interessa. Sei de tudo.

- Me faz um favor. Não espalha.

- Vou pensar.

- Por amor de Deus.

- Está bem. Mas olhe lá, hein?

Descobriu que tinha poder sobre as pessoas.

- Sei de tudo.

- Co-como?

- Sei de tudo.

- Tudo o quê?

- Você sabe.

- Mas é impossível. Como é que você descobriu?

A reação das pessoas variava. Algumas perguntavam em seguida:

- Alguém mais sabe?

Outras se tornavam agressivas:

- Está bem, você sabe. E daí?

- Daí, nada. Só queria que você soubesse que eu sei.

- Se você contar pra alguém, eu…

- Depende de você.

- De mim, como?

- Se você andar na linha eu não conto.

- Certo.

Uma vez, parecia ter encontrado um inocente.

- Eu sei de tudo.

-Tudo o quê? Você sabe.

- Não sei. O que é que você sabe?

- Não se faça de inocente.

- Mas eu realmente não sei.

- Vem com essa.

- Você não sabe de nada.

- Ah, quer dizer que existe alguma coisa para saber, mas eu é que não sei o que é?

- Não existe nada.

- Olha que eu vou espalhar…

- Pode espalhar que é mentira.

- Como é que você sabe o que eu vou espalhar?

- Qualquer coisa que você espalhar será mentira.

- Está bem. Vou espalhar.

Mas dali a pouco veio um telefonema.

- Escute, estive pensando melhor. Não espalha nada sobre aquilo.

- Aquilo o quê?

- Você sabe.

Passou a ser temido e respeitado. Volta e meia alguém se aproximava dele e sussurava:

- Você contou para alguém?

- Ainda não.

- Puxa. Obrigado.

Com o tempo, ganhou uma reputação. Era de confiança. Um dia foi procurado por um amigo com uma oferta de emprego. O salário era enorme.

- Porque eu? – quis saber.

- A posição é de muita responsabilidade – disse o amigo. – Recomendei você.

- Porquê?

- Pela sua discrição.

Subiu na vida. Dele se dizia que sabia tudo sobre todos mas nunca abria a boca pra falar de ninguém. Além de bem-informado, um gentleman. Até que recebeu um telefonema. Uma voz misteriosa que disse:

- Sei de tudo.

- Co-como?

- Sei de tudo.

- Tudo o quê?

- Você sabe.

Resolveu desaparecer. Mudou-se de cidade. Os amigos estranharam o seu desaparecimento repentino. Investigaram. O que ele estaria tramando? Finalmente foi descoberto numa praia remota.

Os vizinhos contam que numa noite vieram muitos carros e cercaram a casa. Várias pessoas entraram na casa. Ouviram-se gritos. Os vizinhos contam que a voz que mais se ouvia era a dele, gritando:

- Era brincadeira! Era brincadeira!

Foi descoberto de manhã, assassinado. O crime nunca foi desvendado. Mas as pessoas que o conheciam não têm dúvidas sobre o motivo.

Sabia demais.


Luis Fernando Verissimo. Extraído de As mentiras que os homens contam.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Eleições 2012 – Algumas estatísticas de candidaturas para Belém/PA

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disponibiliza em seu site (http://www.tse.jus.br/) o DivulgaCand – Divulgação de Registro de Candidaturas 2012. Lá, é possível consultar informações detalhadas sobre os candidatos (prefeito e vereador) de todo o Brasil.

Em uma primeira análise, compilamos aqui algumas informações sobre candidaturas na cidade de Belém/PA.
 
Partimos do grau de instrução dos candidatos (prefeito e vereador). Segundo o TSE, as candidaturas deferidas somam 792 casos para as eleições 2012. Os maiores percentuais são de candidatos com ensino médio completo (38,1%) e superior completo (34,7%); e ainda há pouco mais de 5% que não terminaram o ensino fundamental, conforme gráfico abaixo. Adiciona-se que, em comparação com a média estadual, o percentual daqueles que possuem ensino médio completo não varia muito em relação ao observado na média do estado (36,8%), já para superior completo é bem maior que a média estadual (16,4%). Por fim, o percentual de candidaturas no estado de pessoas que não têm o ensino fundamental completo é de 21% (sendo constatadas 8 candidaturas declaradas como de analfabetos).

Grau de instrução dos candidatos, eleições 2012 - Belém/PA

Fonte: TSE (2012). Elaboração própria.


Um recorte também possível de averiguação é o de gênero. Em Belém, 29% dos postulantes a algum cargo são de mulheres. A média para o estado é de aproximadamente 30,7%.


Sexo dos candidatos (%), eleições 2012 - Belém/PA
Fonte: TSE (2012). Elaboração própria.

Já em termos de filiação partidária, o destaque fica por conta do maior percentual de candidatos do PSOL, atingindo pouco mais de 8% do total de candidaturas. Realçando alguns partidos, os percentuais são: PT (6,4%), PMDB (5,1%) e PSDB (4,7%). Já quando se observa a média estadual, as maiores participações são PMDB (9,6%), PT (9%) e PSDB (8,5%). Outro dado interessante é que os três candidatos pelo PSTU têm em Belém o colégio eleitoral, não tendo nenhum nome do partido concorrendo a cargos no interior do estado.


Candidaturas por partido (%), eleições 2012 - Belém/PA
Fonte: TSE (2012).  Elaboração própria.

Em termos de ocupação, segundo declaração dos candidatos ao TSE, o destaque é para o grande percentual de candidatos que responderam “Outros”, representando 34,7% do total. Para fins de melhor visualização, a opção “Outros” não foi considerada no gráfico abaixo. Sobressaem-se as ocupações de “Comerciante” e de “Servidor Público Estadual” (38 casos ou 6,5%, cada uma). Merece destacar também os 2,7% de “Estudante, bolsista, estagiário”.


Candidaturas por ocupação (%), eleições 2012 - Belém/PA
Fonte: TSE (2012). Elaboração própria.

Por fim, apresentamos os limites de gastos de cada candidato a prefeito, conforme informações do TSE.


Candidaturas por limite de gastos de campanha, eleições 2012 - Belém/PA
Fonte: TSE (2012). Elaboração própria.

Nota do TSE sobre limite de gastos de campanha:
O limite de gastos com campanha eleitoral é estabelecido por lei específica ou, na ausência desta, o limite deverá ser estabelecido pelo partido político para cada cargo eletivo em que apresente candidato próprio. Os limites deverão ser informados à Justiça Eleitoral no ato de registro das candidaturas (Lei nº 9.504/97, art. 17-A).
No caso de coligação, cada partido político que a integra fixará, por cargo eletivo, o limite de gastos dos seus respectivos candidatos (Lei nº 9.504/97, art. 18, § 1º).
Gastar recursos além do limite fixado por cargo eletivo pelo partido sujeitará o candidato a multa no valor de 5 a 10 vezes o valor em excesso, podendo ainda o responsável responder por abuso do poder econômico (Lei Complementar 64/90, art. 22).
Após registrado na Justiça Eleitoral, o limite de gastos dos candidatos só poderá ser alterado mediante solicitação justificada, na ocorrência de fatos supervenientes e imprevisíveis, cujo impacto sobre a campanha inviabilize o limite de gastos fixado previamente. O pedido de alteração do limite de gastos deverá ser encaminhado ao relator do processo do registro de candidatura.