sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Medo da Chuva Entrevista - o cientista político Roberto Corrêa

O primeiro entrevistado do Medo da Chuva Entrevista é o cientista político Roberto Corrêa. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPA, Corrêa é economista, com doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário do Rio de Janeiro – IUPERJ.
Para mais informações sobre nosso entrevistado, favor acessar: http://goo.gl/NpLsf
Confira a entrevista a seguir!


MC: Qual sua avaliação das eleições para governador (PA) e presidente, principalmente no que tange às campanhas dos candidatos?

Roberto Corrêa: Diferente do que pensa a maioria dos cientistas políticos, meus colegas, essa campanha reflete o amadurecimento da democracia, não tanto pelos temas religiosos apresentados como recurso de voto, mas e principalmente em razão de que os três candidatos mais votados no 1º turno (Dilma, Serra e Marina) são muito semelhantes para o eleitorado em termos de confiabilidade e viés programático-ideológico.
Foi-se o tempo em que o risco de eleger um reacionário da extrema direita ou um patife corrupto era iminente e recorrente. Esse era o cenário que alimentava as escaramuças e a violência verbal. Viva a democracia enquanto jogo que aos poucos se aperfeiçoa com o aprendizado do eleitor e do político. Chegou a hora de pugnar pela reforma política visando o aperfeiçoamento institucional da representação no Congresso e nas Assembléias estaduais e municipais.

MC: Em sua opinião, os programas de governo de Jatene e Dilma são as melhores opções para o Pará e o Brasil, respectivamente, frente ao atual momento de cada uma dessas áreas?

Roberto Corrêa: Sim. O que vimos acontecer em nível nacional acabou ocorrendo em nível estadual. Os dois candidatos selecionados para o 2º turno confirmam a maturidade do eleitor. A questão da continuidade (Ana Júlia) versus descontinuidade (Jatene) é algo que só o tempo dirá quem foi o melhor.

Particularmente afianço que o governo Ana Júlia foi um bom governo e que não se reelegeu graças à inexperiência política do agrupamento de poder, em que pese ser reconhecidamente competente na dimensão técnica da governança. Porém, como disse o filósofo em se tratando de politica: Magis experiendo quam discendo cognoscitur (Mais vale experiência que ciência).

MC: O que esperar de diferente no governo Dilma em relação ao de Lula? A política econômica deve se manter no tripé regime de metas de inflação (política monetária), câmbio flutuante (política cambial) e expressivo gastos do governo (política fiscal)?

Roberto Corrêa: A continuidade de um programa com o aprofundamento e ampliação das políticas públicas de combate a miséria. Retorno da CPMF para saúde e educação; continuidade da política monetária do Bacen, câmbio flutuante  e aperto fiscal, mormente em custeio como meio de ampliar o investimento necessário ao aceleramento do PAC.

O primeiro ano de governo terá como principal ambientação os solavancos dos conflitos congressuais em razão dos escândalos do tipo Erenice Guerra. A folgada maioria não evitará que o poder da imprensa alimente as CPIs. Espero que o cenário internacional continue avançando e alimentando o fluxo de entrada de capitais pa ra reforço das fontes de investimento em infraestrutura do sistema de transporte com reflexos na empregabilidade, educação e urbanização.

Isso tudo sem esquecer a exploração das novas fontes de petróleo e a política habitacional. O cuidado com a doença holandesa deverá estar presente como forma de evitar a desindustrialização que, no caso brasileiro, é bastante diferente da Argentina, graças ao avanço tecnológico na industria de modo geral, e a pujança do nosso mercado interno em crescimento via inclusão social.

MC: Muito se tem falado no Brasil da necessidade de uma reforma política, porém depois de oito anos de governo FHC e oito de governo Lula pouco se fez neste sentido. Dilma, em seu primeiro discurso como candidata eleita se comprometeu a dedicar esforços para realizar a desejada reforma política. Em sua opinião, quais as diretrizes de uma reforma política no Brasil? A Dilma terá força e contexto para ser bem sucedida nesta missão?

Roberto Corrêa: Haverá sim, esforço direcionado para uma reforma política que tenha por meta o aperfeiçoamento institucional direcionado para a redução dos gastos de campanha e maior disciplina partidária com efeitos positivos na governabilidade e na governança. Aposto numa legislação eleitoral do tipo voto em lista pré-ordenada ou voto distrital misto. O parlamentarismo poderá ressurgir como proposta de governo. Isso é possível, depende das negociações e da pressão da sociedade. Um fato inédito concorre para isso: Dilma tem maioria absoluta na Câmara e no Senado.

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